SAPUCAIA DO SUL – CAPÍTULO XVII
A LUTA CONTINUA
Logo após a consulta plebiscitária de Esteio, uma enorme surpresa aguarda os moradores do distrito e, em especial, os componentes da União dos Amigos de Sapucaia. A matéria estampada no Jornal Folha da Tarde do dia 03 de abril de 1960 a manchete assombra a todos: “SAPUCAIA EM POLVOROSA PORQUE NÃO QUER SER BAIRRO DE SÃO LEPOLDO” e mais:” SÃO LEOPOLDO: MUDANÇA DE SAPUCAIA PARA BAIRRO PROVOCA REVOLTA, DEBATES E SÉRIAS ACUSAÇÕES. Se tudo já estava ruim, outra edição do mesmo jornal publicado em 26 de abril de 1960 é ainda mais assustadora: “SÃO LEOPOLDO NÃO TERÁ MAIS DISTRITOS: VEREADORES E PREFEITO DECIDIRAM EXTINGUIR O ÚNICO QUE RESTAVA”. No dia 30/04 1960 o Jornal SL, publicado São Leopoldo, a manchete coloca: “REINICIADA A DISCUSSÃO ENTRE SAPUCAIA E TRÊS PORTOS”.
A Folha da tarde publica, em 3 de maio de 1960 estampa: “PREFEITO E VEREADORES QUERIAM SAPUCAIA E TRÊS PORTOS COMO BAIRRO E AO VEREM A REAÇÃO DO POVO VOLTARAM ATRÁS.” E mais: “AUTORIZADA A INSTALAÇÃO DE UM POSTO DO SAMDU EM SAPUCAIA”.
Sentindo-se traídos, os componentes da União dos Amigos de Sapucaia em reunião , tomaram conhecimento do que ocorria e declararam que:” tripudiando sobre a dignidade e paciência dos que tão grande prova de lealdade e apreço deram àqueles a que haviam ligado por laços urdidos em fraterno convívio secular, a Câmara de São Leopoldo, deixando-se enredar em questiúnculas locais, habilmente exploradas, num gesto provocador, desafiante e inamistoso, pretende aprovar projeto de lei que arrebatará de Sapucaia o Bairro Três Portos, a zona industrial do distrito, transformando-o em bairro de São Leopoldo, fazendo das sobras um minguado 2º distrito”.
Esse brado ecoou nos lares e no coração dos sapucaienses, enquanto Geraldo Cozubeck, o presidente da União dos Amigos de Sapucaia, se dirige em 28 de março à Câmara de Vereadores de São Leopoldo em veemente protesto e advertência sobre a usurpação da Vila de Três Portos. O presidente da UAS lembrou ainda, que o prefeito eleito, Sr. Siegbert Saft, em sua campanha havia prometido assegurar a integridade territorial de Sapucaia.
Tentando amenizar a polémica o prefeito Siegbert Saft divulga outra medida que traz novas inquietações aos moradores de Sapucaia. Essa alteração é publicada em manchete pelo Jornal Folha da Tarde no dia 03/05/1960: “SAPUCAIA NÃO QUER A SUBPREFEITURA E SUBDELEGACIA NO LOCAL PREVISTO PELO PREFEITO” afirma “ RENATO CAMBOIM”. A ideia do Prefeito para satisfazer tanto a Três portos como a Sapucaia era construir prédio em uma área destinada a praça, já então denominada de João Pessoa, no Bairro Santa Catarina. Ao licitar a edificação nesse local, ele deixaria a Subprefeitura, Subdelegacia, Presídio Distrital e sede das máquinas municipais em igual distância entre as duas povoações. Em suas alegações ele coloca que “a construção será realizada em terreno de 25×80 metros, na rua Pio XII, lugar alto, amplo e central”. O que ele não falou é que o local era ainda bastante desabitado. Isso também contrariava os moradores, pois naquele momento, esses serviços estavam localizados na Praça General Freitas, no coração de Sapucaia.
Os representantes de Sapucaia são vencidos e as obras iniciam no local determinado pelo prefeito. Contudo essa medida não foi suficiente para resguardar os interesses de Sapucaia, pois, o processo relativo divisão do 7º Distrito já chegara ao Legislativo leopoldense.
Para complicar ainda mais, a Folha da tarde publica em 19/05/1960 mais um capítulo dessa grande polêmica: “OFERECERAM-ME A PREFEITURA DE SAPUCAIA SE ADERISSE A CORRENTE EMANCIPACIONISTA” alega o vereador Antenor Stumft.
Logo a seguir, no dia 24/05/1960 o mesmo jornal publica:” Cada vez mais acesa a luta… UNIÃO DOS AMIGOS DE SAPUCAIA AFIRMA QUE O POVO REAGIRÁ SE PASSAR O EXPEDIENTE 45”. E, no dia 14/06/1960, em nova reunião, a União dos Amigos de Sapucaia avalia quais as medidas seriam necessárias, pois o Expediente, que tomou o número 45, tramitava na Câmara leopoldense, tendo sido apresentado pelo vereador Antenor Stump, representante da Vila de Três Portos junto ao legislativo. No dia 09/05/1960 e matéria é “ CASO SAPUCAIA – TRÊS PORTOS VOLTA A BAILA: CRITICADOS E AMEAÇADOS DOIS VEREADORES”.
Listas são passadas e repassadas no comércio e entre as pessoas em seus próprios lares. Era preciso arrecada mais recursos para pagar os ônibus que levavam os moradores até a Câmara de São Leopoldo
Os moradores de Sapucaia estavam agitados e em meio a essa confusão, muitos começaram a defender a emancipação. A UAS foi fortalecida e começou a agir. Em primeiro lugar Era necessário ampliar o número de aliados da União dos Amigos de Sapucaia e evitar que o nefasto Expediente 45 fosse votado. Por diversas semanas os sapucaienses lotaram ônibus e outros veículos dirigindo-se à Câmara leopoldense. Enquanto assim procediam aumentavam a adesão ao movimento que buscava a emancipação de Sapucaia.
Em documento da época, Cozubeck, o presidente da UAS declara:” … Jamais admitiremos qualquer forma de divisão de Sapucaia, e muito menos a perda de uma polegada sequer do nosso território distrital. Para isso contamos acima de tudo, com a união de todos para o bem com um.”
Nesse momento histórico Sapucaia passa a ser manchete em todos os jornais da região, e, em especial de Porto Alegre. No dia 10/07/1960 o Correio do Povo publica em letras garrafais: AFIRMAM OS EMANCIPACION ISTAS: “ SAPUCAIA QUER LIVRAR-SE DE 130 ANOS DE CATIVEIRO”.
Eni Allgayer
03/08/2021